Resolução de triângulos
Referência : Tavares, J., Geraldo, A., (2017) Resolução de triângulos, Rev. Ciência Elem., V5(3):079
Autor: João Nuno Tavares e Ângela Geraldo
Editor: José Ferreira Gomes
DOI: [https://doi.org/10.24927/rce2017.079]
Índice[esconder] |
O que é resolver um triângulo
Em qualquer triângulo podemos considerar como elementos principais os seus três lados e os três ângulos internos e todos os outros elementos como elementos secundários, como por exemplo, as alturas, as medianas, o raio do círculo circunscrito, etc.
A resolução de triângulos consiste em determinar alguns elementos do triângulo a partir de elementos já conhecidos. Quando se diz determinar os elementos entenda-se determinar a medida desses elementos.
Resolução de triângulos retângulos
Relações entre os seus elementos
Considerando um triângulo retângulo [ABC] e designemos por a, b e c os lados desse triângulo e por A, B e C os seus ângulos internos opostos a cada um dos lados, respetivamente (Fig.1).
Estes seis elementos do triângulo satisfazem relações importantes, tais como (considerando A=90º):
a2=b2+c2 |
(Teorema de Pitágoras) |
B+C=90º |
(ângulos complementares) |
Pelas definições de seno e cosseno de um ângulo agudo sabemos que sinB=ba e cosB=ca donde resulta que, b=asinB e c=acosB.
Como B e C são ângulos complementares temos ainda que sinB=cosC e que cosB=sinC, passando as fórmulas anteriores a serem equivalentes a b=acosC e c=asinC, respetivamente.
Resolução de triângulos retângulos
Sabemos que para definir um triângulo precisamos conhecer três dos seus elementos, sendo um deles necessariamente um lado. Como estamos a considerar triângulos retângulos um dos ângulos já é conhecido, o ângulo reto, por isso bastam mais dois elementos. Existem assim quatro casos possíveis.
1ºcaso - São conhecidos a hipotenusa e um ângulo agudo
Neste caso, para determinar a amplitude do ângulo agudo desconhecido, usamos o facto de B e C serem ângulos complementares. Em seguida, usamos as fórmulas b=asinB e c=acosB para determinar o comprimento dos dois catetos.
Exemplo:
Sabendo que a hipotenusa a=32,63 cm e que o ângulo agudo B=34º52′8″, temos então que: Cálculo de C: C=90º−(34º52′8″)=55º7′52″ Cálculo do comprimento dos catetos: b=asinB⇔b=32,63×sin(55º7′52″)⇔b≃26,77 cm c=acosB⇔c=32,63×cos(55º7′52″)⇔c≃18,65 cm |
2ºcaso - São conhecidos um cateto e um ângulo agudo
Neste caso, para determinar a amplitude do ângulo agudo desconhecido, usamos o facto de B e C serem ângulos complementares. Em seguida, considerando o ângulo oposto ao cateto conhecido, sabemos que o seno desse ângulo é igual ao quociente entre o cateto conhecido (cateto oposto) e a hipotenusa, daí resulta que o comprimento da hipotenusa é igual ao quociente entre o cateto e o seno desse ângulo. Ou, se considerarmos o ângulo agudo cujo cateto adjacente é o cateto conhecido, sabemos que o cosseno desse ângulo é igual ao quociente entre o cateto conhecido e a hipotenusa, daí resulta que o comprimento da hipotenusa é igual ao quociente entre o cateto e o cosseno desse ângulo. Para determinar o terceiro lado do triângulo usamos o Teorema de Pitágoras.
Exemplo:
Conhecidos o cateto c=57,4 cm e o ângulo agudo C=46º25′ temos então que: Cálculo de B: B=90º−(46º25′)=43º35′
sinC=ca⇔a=57,4sin(46º25′)⇔a≃79,24 cm a2=b2+c2⇔(79,24)2=b2+(57,4)2⇔b≃54,63 cm |
3ºcaso - São conhecidos a hipotenusa e um cateto
Para determinarmos o comprimento do terceiro lado do triângulo usamos diretamente o Teorema de Pitágoras. Conhecidos os três lados do triângulo, utilizamos as razões trigonométricas para determinar a amplitude de cada um dos ângulos agudos.
Exemplo:
Conhecidos a hipotenusa a=18 cm e o cateto b=9 cm temos então que: Cálculo do segundo cateto utilizando o T.Pitágoras: a2=b2+c2⇔182=92+c2⇔c≃15,59 cm Determinação das amplitudes dos dois ângulos agudos: sinB=ba⇔sinB=918⇔B=sin−1(0,5)=30º C=90º−B⇔C=90º−30º=60º |
4ºcaso - São conhecidos os dois catetos
O comprimento da hipotenusa pode ser determinado através do Teorema de Pitágoras. Para se determinar a amplitude de cada um dos ângulos agudos usamos uma das razões trigonométricas.
Exemplo:
Conhecidos o cateto b=22,6 cm e o cateto c=13,5 cm temos então que: Cálculo da hipotenusa utilizando o T.Pitágoras: a2=b2+c2⇔a2=(22,6)2+(13,5)2⇔a≃26,33 cm Determinação das amplitudes dos dois ângulos agudos: tanB=bc⇔tanB=22,613,5⇔B=tan−1(22,613,5)⇔B≃59º8′54″ C=90º−B⇔C=90º−(59º8′54″)=30º51′6″ |
Resolução de triângulos quaisquer
Relações entre os seus elementos
Considerando um triângulo obliquângulo (sem nenhum ângulo reto) [ABC] e designemos por a, b e c os lados desse triângulo e por A, B e C os seus ângulos internos opostos a cada um dos lados, respetivamente (Fig.2).
Os seis elementos deste triângulo satisfazem relações importantes, tais como:
A+B+C=180º | (soma das amplitudes dos ângulos internos de um triângulo) |
asinA=bsinB=csinC |
(Lei dos senos) |
a2=b2+c2−2bccosA ou b2=a2+c2−2accosB ou c2=a2+b2−2abcosC | (Lei dos cossenos) |
Resolução de triângulos obliquângulos
As relações estabelecidas anteriormente permitem resolver um triângulo obliquângulo conhecidos alguns dos seus elementos. Já sabemos que para definir um triângulo precisamos conhecer três dos seus elementos, sendo um deles necessariamente um lado. Assim podemos considerar quatro casos.
1ºcaso - São conhecidos dois ângulos e um lado
Neste caso, para determinar a amplitude do ângulo desconhecido usa-se o facto da soma das amplitudes dos ângulos internos de um triângulo ser 180º. Assim, considerando A o ângulo desconhecido temos que A=180º−(B+C). Para determinarmos os lados b e c, considerando a conhecido, usamos a lei dos senos. Aplicando esta lei temos então que:
bsinB=asinA⇔b=asinBsinA e csinC=asinA⇔c=asinCsinA.
Exemplo:
Sabendo que B=44º, C=76º e que a=5 cm temos então que: Cálculo de A: A=180º−(B+C)=180º−(44º+76º)=60º. Cálculo de b e c: b=asinBsinA=5×sin44ºsin60º≃4,01 cm e c=asinCsinA=5×sin76ºsin60º≃5,6 cm |
2ºcaso - São conhecidos dois lados e o ângulo por eles formado
Considerando a e b os dois lados conhecidos e C o ângulo conhecido, determinamos o lado c através da lei dos cossenos, c2=a2+b2−2abcosC. Em seguida, através da lei dos senos determinamos sinA e sinB, sinA=asinCc e sinB=bsinCc.
Exemplo:
Conhecidos a=11,4 cm, b=6,2 cm e C=32º temos então que:
Cálculo de c: c2=a2+b2−2abcosC⇔c2=(11,4)2+(6,2)2−2×11,4×6,2×cos32º⇔c≃6,97 cm. Cálculo de A e B: sinA=asinCc⇔sinA=11,4×sin32º6,97⇔sinA≃0,87⇔A≃60º27′36″ sinB=bsinCc⇔sinB=6,2×sin32º6,97⇔sinB≃0,47⇔B≃28º1′48″ |
3ºcaso - São conhecidos os três lados
Conhecidos os três lados a, b e c utilizamos a lei dos cossenos para determinar cada um dos ângulos internos do triângulo.
Exemplo:
Sabendo que a=22 cm, b=15,7 cm e c=8,3 cm pela lei dos cossenos temos então que:
|
4ºcaso - São conhecidos dois lados do triângulo e o ângulo oposto a um deles
Suponhamos que são conhecidos os lados a e b e o ângulo A. Utilizamos a lei dos senos para determinar o ângulo B, em seguida, usando o facto da soma dos ângulos internos de um triângulo ser igual a 180º calculamos a amplitude de C. Por fim, determinamos o terceiro lado do triângulo, lado c, através da lei dos cossenos (como no 2ºcaso).
Exemplo:
Conhecidos a=10 cm, b=4 cm e A=70º temos então que:
|
Referências
- J. Jorge G. Calado (1974) "Compêndio de Trigonometria" 4ªedição. Liv. Popular de Francisco Franco, Lisboa.
Criada em 19 de Fevereiro de 2013
Revista em 23 de Março de 2013
Aceite pelo editor em 30 de Setembro de 2017