Diferenças entre edições de "Etileno"

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<span style="font-size:8pt"><b>Refer&ecirc;ncia : </b><font color="#003600" > Moreira, C. (2012), WikiCi&ecirc;ncias, 3(01):0470</font></span><br> <span style="font-size:8pt"><b>Autor</b>: <i>[[Usuário:Catmor|Catarina Moreira]]</i></span><br> <span style="font-size:8pt"><b>Editor</b>: <i>[http://www.cbmg.umd.edu/faculty/josfeij José Feijó]</i></span>
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<span style="font-size:8pt"><b>Referência : </b> Neves, M., Correia, S., Canhoto, J., (2024) ''Etileno'', [https://rce.casadasciencias.org Rev. Ciência Elem.], V12(2):013
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<span style="font-size:8pt"><b>Autores</b>: <i>Mariana Neves, Sandra Correia e Jorge Canhoto</i></span><br>
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<span style="font-size:8pt"><span style="font-size:8pt"><b>Editor</b>: <i>[[Usu&aacute;rio:Jntavar|João Nuno Tavares]]</i></span><br>
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<span style="font-size:8pt"><b>DOI</b>: <i>[[https://doi.org/10.24927/rce2024.013 https://doi.org/10.24927/rce2024.013]]</i></span><br>
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<html><a href="https://rce.casadasciencias.org/rceapp/static/docs/artigos/2024-001.pdf" target="_blank">
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                <img src="https://rce.casadasciencias.org/static/images/layout/pdf.png" alt="PDF Download"></a></html>
 
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O etileno é uma fitohormona presente em todos os órgãos vegetais e alguns fungos. É sintetizado a partir da metionina. O etileno participa em quase todos os processos de desenvolvimento das plantas, especialmente em maturação, em resposta ao stress. Uma das suas principais funções é a maturação dos frutos (como maçãs, bananas, etc,), e a promoção da abcisão ou queda das folhas no inverno, juntamente com as auxinas.  
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==Resumo==
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O etileno, C<sub>2</sub>H<sub>4</sub>, é uma hormona vegetal que tem um papel crucial em vários processos do desenvolvimento das plantas e em repostas a vários fatores de stresse. O seu efeito nos tecidos vegetais é consequência de uma via de sinalização complexa que envolve a ativação de fatores de transcrição que controlam a expressão de inúmeros genes de resposta ao etileno. Esta hormona tem um papel fundamental no desenvolvimento da raiz, formação de pelos radiculares, senescência, abcisão foliar e maturação dos frutos. O etileno está também envolvido na tolerância a diversos fatores de stresses abióticos e bióticos como temperaturas elevadas, salinidade, seca e ataques de fungos e bactérias. De um modo geral, esta hormona destaca-se como um elemento-chave na regulação de processos de desenvolvimento, stresse e adaptação das plantas ao ambiente que as rodeia.
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<p class='mainText'>O etileno é uma hormona vegetal de estrutura simples, C<sub>2</sub>H<sub>4</sub>, gasosa à temperatura ambiente,
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que é sintetizada e libertada pelos tecidos vegetais</html><ref><html>ABELES, F. B.,
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<em>Ethylene in Plant Biology</em>, <em>New York, USA: Academic Press</em>. 1973.</html></ref><html>. Apesar da sua simplicidade,
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participa em múltiplos processos do desenvolvimento vegetal e em várias respostas aos
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stresses bióticos e abióticos</html><ref><html>KHAN, N. A. <em>et al.</em>,
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<em><a class="a-link" target="_blank"
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                href="https://www.frontiersin.org/journals/plant-science/articles/10.3389/fpls.2017.01782/full">Editorial: Ethylene: A Key Regulatory Molecule in Plants</a></em>, <em>Front Plant Sci</em>, 8, 1782. 2017.</html></ref><html>. O efeito do etileno nas plantas foi reportado pela primeira
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vez na ervilha, em 1901, por Dimitry Neljubov. No entanto, foi Richard Gane, em 1934, quem
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fez a grande descoberta de que as plantas não só respondiam ao etileno, como também o
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sintetizavam</html><ref><html>BAKSHI, A. <em>et al.</em>,
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<em><a class="a-link" target="_blank"
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                href="https://www.researchgate.net/publication/279805886_History_of_Research_on_the_Plant_Hormone_Ethylene">History of Research on the Plant Hormone Ethylene</a></em>, <em>J Plant Growth Regul</em>, 34, 809-827. 2015.</html></ref><html>. A correlação entre a síntese de etileno e a sua atividade biológica mostrou à
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comunidade científica que moléculas em estado gasoso podiam atuar também como hormonas</html><ref><html>CHANG, C., Q&A,
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<em><a class="a-link" target="_blank"
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                href="https://bmcbiol.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12915-016-0230-0">How do plants respond to ethylene and what is its importance?</a></em>, <em>BMC Biol</em>, 14, 7. 2016.</html></ref><html>.
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O etileno marcou, assim, a história como a primeira molécula gasosa com função
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sinalizadora a ser conhecida.</p>
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  <p class='mainText'>A biossíntese do etileno foi bastante estudada na segunda metade do século XX, período no
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qual Adams e Yang identificaram a s-adenosilmetionina (SAM) e o ácido aminociclopropano
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carboxílico (ACC), como os seus dois intermediários</html><ref><html>ADAMS, D. O. & YANG S. F.,
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<em><a class="a-link" target="_blank"
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                href="https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC382898/">Ethylene biosynthesis: Identification of 1-aminocyclopropane-1-carboxylic acid as an intermediate in the conversion of methionine to ethylene</a></em>, <em>Proc Natl Acad Sci USA</em>, 76, 170-174. 1979.</html></ref><html><sup>,</sup> </html><ref><html>ADAMS, D. O. & YANG S. F.,
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<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16660208/">Methionine Metabolism in Apple Tissue: implication of s-adenosylmethionine as an intermediate in the conversion of methionine to ethylene</a></em>, <em>Plant Physiol</em>, 60, 892-896. 1977.</html></ref><html>. De um modo geral, a biossíntese desta
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hormona inicia-se com a conversão de SAM em ACC, pela ACC sintase, e finalmente o ACC é
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convertido em etileno pela ACC oxidase</html><ref><html>YANG, S. F. & HOFFMAN, N. E.,
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<em><a class="a-link" target="_blank"
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                href="https://www.annualreviews.org/content/journals/10.1146/annurev.pp.35.060184.001103">Ethylene biosynthesis and its regulation in higher plants</a></em>, <em>Annu Rev Plant Physiol</em>, 35, 155-189. 1984.</html></ref><html>. O uso de diversos mutantes com resposta variável
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ao etileno, obtidos da planta modelo <em>Arabidopsis thaliana</em>, permitiu ao longo dos anos não só
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compreender a função desta hormona no desenvolvimento vegetal, como também perceber
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quais os componentes da sua via de sinalização</html><ref><html>CHEN, Y. F. <em>et al.</em>,
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<em><a class="a-link" target="_blank"
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                href="https://academic.oup.com/aob/article/95/6/901/188924">Ethylene signal transduction</a></em>, <em>Ann Bot</em>, 95, 901-915. 2005.</html></ref><html>, dos quais se destacam os recetores de etileno.
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O recetor de etileno denominado <em>Ethylene Receptor 1</em> (ETR1) em <em>A. thaliana</em> foi não só o
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primeiro recetor de etileno identificado, como também foi o primeiro recetor de hormonas vegetais
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a ser clonado e sequenciado</html><ref><html>CHANG, C. <em>et al.</em>,
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<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://www.science.org/doi/10.1126/science.8211181">Arabidopsis Ethylene-Response Gene ETR1: Similarity of Product to Two-Component Regulators</a></em>, <em>Science</em>, 262, 539-
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544. 1993.</html></ref><html>. Em <em>A. thaliana</em>, o etileno é reconhecido por uma família de
 +
cinco recetores denominados ETR1, ERS1 (<em>Ethylene Response Sensor 1</em>), ETR2, EIN4 (<em>Ethylene
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Insensitive 4</em>) e ERS2</html><ref><html>BLEECKER, A. B. <em>et al.</em>,
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<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/9800203/">The ethylene-receptor family from Arabidopsis: structure and function</a></em>, <em>Philos Trans R Soc Lond B Biol Sci</em>, 353,
 +
1405-1412. 1998.</html></ref><html>. Estes recetores situam-se na membrana do retículo endoplasmático
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(ER) e é a partir da ligação do etileno ao recetor que se desencadeia uma via de sinalização
 +
complexa</html><ref><html>BINDER, B. M.,
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<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32332098/">Ethylene signaling in plants</a></em>, <em>J Biol.Chem</em>, 295, 7710-7725. 2020.</html></ref><html>. Dois componentes chave nesta via de sinalização são a proteína-cinase <em>Constituve
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Triple Response 1</em> (CTR1) e a proteína <em>Ethylene Insensitive 2</em> (EIN2), que funcionam como reguladores negativos e positivos, respetivamente (FIGURA 1). CTR1 tem a função de fosforilar
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EIN2 e impedir a sua função na via de sinalização; já EIN2 quando não impedida tem a função
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de aumentar a atividade de fatores de transcrição EIN3 e EIN3-LIKE 1 (EIL1) que, por sua vez,
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controlam a transcrição de genes de resposta ao etileno, como os fatores de transcrição da
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família ERFs (<em>Ethylene Response Factors</em>).</p>
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  <p class='mainText'>De uma maneira geral, na ausência de etileno (ar) os recetores mantêm a proteína-cinase
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CTR1 ativa, que por sua vez fosforila EIN2. Esta fosforilação diminui os níveis de EIN2 impedindo
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o seu transporte para o núcleo e a ativação dos fatores de transcrição. Na presença de
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etileno, a sua ligação inibe os recetores, com consequente desactivação de CTR1. A perda de
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atividade de CTR1 permite a clivagem da proteína não fosforilada EIN2, ancorada no ER. O domínio
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C-terminal de EIN2 (EIN2-C) libertado após a clivagem, é transportado para o núcleo
 +
e ativa a via de sinalização a jusante de EIN2 ao desencadear a atividade dos fatores de transcrição
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EIN3/EIL1</html><ref><html>BINDER, B. M.,
 +
<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32332098/">Ethylene signaling in plants</a></em>, <em>J Biol.Chem</em>, 295, 7710-7725. 2020.</html></ref><html><sup>,</sup> </html><ref><html>DOLGIKH, V. A. <em>et al.</em>,
 +
<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6718143/">Shaping Ethylene Response: The Role of EIN3/EIL1 Transcription Factors</a></em>, <em>Front Plant Sci</em>, 10, 1030. 2019.</html></ref><html>.</p>
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<figure class="image-medium">
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    <img src="https://rce.casadasciencias.org/static/images/articles/2024-013-01.jpg">
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</figure>
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<figcaption>FIGURA 1. Esquema geral da via de sinalização do etileno e alguns dos seus componentes chave. Círculos cinzentos indicam
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reguladores negativos; círculos brancos indicam reguladores positivos; (\(\rightarrow )) indica efeito regulador; (⊣) indica inibição. Esquema
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adaptado de Dolgikh <em>et al.</em>, 2019</html><ref><html>DOLGIKH, V. A. <em>et al.</em>,
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<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6718143/">Shaping Ethylene Response: The Role of EIN3/EIL1 Transcription Factors</a></em>, <em>Front Plant Sci</em>, 10, 1030. 2019.</html></ref><html>.
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</figcaption></center>
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  <p class='mainText'>As diferentes respostas ao etileno revelam os inúmeros papéis em que esta hormona está
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envolvida, quer ao nível do desenvolvimento vegetal, quer nas respostas a vários fatores de
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stress (FIGURA 2). Convém lembrar que o papel do etileno é muitas vezes resultado de uma
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interação com outras hormonas vegetais, como as auxinas, as citocininas, as giberelinas e o
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ácido abscísico (ABA)</html><ref><html>IQBAL, N. <em>et al.</em>,
 +
<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5378820/">Ethylene Role in Plant Growth, Development and Senescence: Interaction with Other Phytohormones</a></em>, <em>Front Plant Sci</em>,
 +
8, 475. 2017.</html></ref><html>. O efeito do etileno nas plantas começa mesmo antes da germinação
 +
e tem um papel essencial no desenvolvimento da plântula</html><ref><html>AHAMMED, G. J. <em>et al.</em>,
 +
<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32220785/">Role of ethylene crosstalk in seed germination and early seedling development: A review</a></em>, <em>Plant Physiol Biochem</em>,
 +
151, 124-131. 2020.</html></ref><html>. A germinação das sementes envolve
 +
inicialmente uma quebra da dormência, que resulta de um equilíbrio hormonal entre o
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ABA e as giberelinas</html><ref><html>FINCH-SAVAGE, W. E. & LEUBNER-METZGER, G.,
 +
<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16866955/">Seed dormancy and the control of germination</a></em>, <em>New Phytol</em>, 171, 501-523. 2006.</html></ref><html>. De um modo geral, o ABA mantém o fenómeno de dormência, enquanto
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as giberelinas quebram este efeito e promovem a germinação</html><ref><html>FINCH-SAVAGE, W. E. & LEUBNER-METZGER, G.,
 +
<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16866955/">Seed dormancy and the control of germination</a></em>, <em>New Phytol</em>, 171, 501-523. 2006.</html></ref><html>. O etileno participa no processo
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de quebra da dormência, pois promove a germinação por diminuir os efeitos do ABA através
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da regulação do seu metabolismo e via de sinalização</html><ref><html>CORBINEAU, F. <em>et al.</em>,
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<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4193209/">Ethylene, a key factor in the regulation of seed dormancy</a></em>, <em>Front Plant Sci</em>, 5, 539. 2014.</html></ref><html>. O etileno está também envolvido no
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crescimento do hipocótilo, porém o seu efeito depende da presença ou ausência de luz, observando-
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se o crescimento dos hipocótilos à luz, enquanto o seu alongamento é inibido no escuro</html><ref><html>AHAMMED, G. J. <em>et al.</em>,
 +
<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32220785/">Role of ethylene crosstalk in seed germination and early seedling development: A review</a></em>, <em>Plant Physiol Biochem</em>,
 +
151, 124-131. 2020.</html></ref><html><sup>,</sup>
 +
</html><ref><html>ZHONG, S. <em>et al.</em>,
 +
<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4437768/">A molecular framework of light-controlled phytohormone action in Arabidopsis</a></em>, <em>Curr Biol</em>, 22, 1530-1535. 2012.</html></ref><html>. Ao nível do sistema radicular, o etileno tem um papel inibitório tanto no desenvolvimento
 +
da raiz principal, como das raízes laterais</html><ref><html>QIN, H. & HUANG, R.,
 +
<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6274790/">Auxin Controlled by Ethylene Steers Root Development</a></em>, <em>Int J Mol Sci</em>, 19, 3656. 2018.</html></ref><html>. As auxinas e o etileno inibem sinergesticamente
 +
o desenvolvimento da raiz principal, no entanto, as auxinas são essenciais para a formação
 +
de raízes laterais</html><ref><html>MUDAY, G. K. <em>et al.</em>,
 +
<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22406007/">Auxin and ethylene: collaborators or competitors?</a></em>, <em>Trends Plant Sci</em>, 17, 181-195. 2012.</html></ref><html>. O efeito inibitório do etileno no desenvolvimento radicular é inerente à sua
 +
regulação na biossíntese, transporte e acumulação de auxinas nas diferentes zonas da raiz</html><ref><html>QIN, H. & HUANG, R.,
 +
<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6274790/">Auxin Controlled by Ethylene Steers Root Development</a></em>, <em>Int J Mol Sci</em>, 19, 3656. 2018.</html></ref><html>,
 +
</html><ref><html>R?ZICKA, K. <em>et al.</em>,
 +
<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1955700/">Ethylene regulates root growth through effects on auxin biosynthesis and transport-dependent auxin distribution</a></em>, <em>Plant Cell</em>, 19, 2197-2212. 2007.</html></ref><html>. Resumidamente, o etileno leva a uma acumulação de auxinas tanto na zona meristemática
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como na zona de alongamento da raiz, resultando na inibição da proliferação e do alongamento
 +
celular18. Esta acumulação de auxinas no ápice da raiz impede que estas se acumulem nas
 +
zonas laterais</html><ref><html>QIN, H. & HUANG, R.,
 +
<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6274790/">Auxin Controlled by Ethylene Steers Root Development</a></em>, <em>Int J Mol Sci</em>, 19, 3656. 2018.</html></ref><html><sup>,</sup> </html><ref><html>MUDAY, G. K. <em>et al.</em>,
 +
<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22406007/">Auxin and ethylene: collaborators or competitors?</a></em>, <em>Trends Plant Sci</em>, 17, 181-195. 2012.</html></ref><html>. O efeito inibitório do etileno no desenvolvimento radicular é inerente à sua
 +
regulação na biossíntese, transporte e acumulação de auxinas nas diferentes zonas da raiz</html><ref><html>, onde seriam necessárias para a formação de raízes laterais. No entanto, o etileno promove a formação de pelos radiculares, pela ativação de fatores de transcrição envolvidos
 +
na sua iniciação e desenvolvimento</html><ref><html>FENG, Y. <em>et al.</em>,
 +
<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29233944/">Ethylene promotes root hair growth through coordinated EIN3/EIL1 and RHD6/RSL1 activity in Arabidopsis</a></em>, <em>Proc Natl
 +
Acad Sci USA</em>, 114, 13834-13839. 2017.</html></ref><html>.</p>
 +
 
 +
  <p class='mainText'>O etileno é também uma hormona chave no processo de envelhecimento das plantas estando
 +
envolvido no amadurecimento dos frutos e na senescência e abcisão das folhas e das
 +
flores</html><ref><html>IQBAL, N. <em>et al.</em>,
 +
<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5378820/">Ethylene Role in Plant Growth, Development and Senescence: Interaction with Other Phytohormones</a></em>, <em>Front Plant Sci</em>,
 +
8, 475. 2017.</html></ref><html>. Ao nível da folha, este fenómeno está, em grande parte, relacionado com a perda de
 +
clorofila</html><ref><html>GEPSTEIN, S. & THIMANN, K. V.,
 +
<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC427489/">The Role of Ethylene in the Senescence of Oat Leaves</a></em>, <em>Plant Physiol</em>, 68, 349-354. 1981.</html></ref><html><sup>,</sup> </html><ref><html>KOUKOUNARAS, A. <em>et al.</em>,
 +
<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://www.researchgate.net/publication/240417660_1-Methylcyclopropene_prevents_ethylene_induced_yellowing_of_rocket_leaves">1-Methylcyclopropene prevents ethylene induced yellowing of rocket leaves</a></em>, <em>Postharvest Biol and Technol</em>,
 +
41, 109-111. 2006.</html></ref><html>; já ao nível das flores, o etileno desencadeia um conjunto de eventos celulares nos
 +
seus diferentes órgãos, que levam à sua senescência e posterior abcisão</html><ref><html>IQBAL, N. <em>et al.</em>,
 +
<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5378820/">Ethylene Role in Plant Growth, Development and Senescence: Interaction with Other Phytohormones</a></em>, <em>Front Plant Sci</em>,
 +
8, 475. 2017.</html></ref><html><sup>,</sup> </html><ref><html></html>WOLTERING, E. J. & VAN DOORN, W. G.,
 +
<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://oxfordjournals.org/jxb/article-abstract/39/11/1605/595917?redirectedFrom=PDF">Role of Ethylene in Senescence of Petals—Morphological and Taxonomical Relationships</a></em>, <em>J Exp
 +
Bot</em>, 39, 1605–1616. 1988.</ref><html>. O amadurecimento
 +
dos frutos climatéricos é o papel mais reconhecido do etileno, pois tem importantes
 +
aplicações económicas</html><ref><html>KOU, X. <em>et al.</em>,
 +
<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34633626/">Different regulatory mechanisms of plant hormones in the ripening of climacteric and non-climacteric fruits: a review</a></em>, <em>Plant Mol Biol</em>, 107, 477-497. 2021.</html></ref><html>. Os frutos climatéricos são todos aqueles que apresentam uma taxa
 +
de respiração elevada durante o seu amadurecimento, acompanhada de uma grande produção
 +
de etileno, tais como a maçã, banana, tomate, entre ouros</html><ref><html>KOU, X. & WU, M.,
 +
<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29392658/">Characterization of Climacteric and Non-Climacteric Fruit Ripening</a></em>, <em>Methods Mol Biol</em>, 1744, 89-102. 2018.</html></ref><html>. O aumento na síntese de etileno
 +
e da sua perceção leva à ativação de fatores de transcrição da família ERF, que, de seguida,
 +
modulam a transcrição de genes de resposta ao etileno, neste caso, genes associados ao
 +
amadurecimento</html><ref><html>LIU, M. <em>et al.</em>,
 +
<em><a class="a-link" target="_blank"
 +
                href="https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26511917/">Ethylene Control of Fruit Ripening: Revisiting the Complex Network of Transcriptional Regulation</a></em>, <em>Plant Physiol</em>, 169, 2380-
 +
2390. 2015.</html></ref><html>. Este processo leva a alteações fisiológicas e bioquímicas no fruto como a
 +
redução dos níveis de clorofila e o aumento de antocianinas, modificações no metabolismo dos
 +
açúcares e na biossíntese de compostos orgânicos voláteis, que resultam na mudança de cor,
 +
amolecimento e aumento do aroma, sabor e conteúdo em açúcares</html><ref><html>IQBAL, N. <em>et al.</em>,
 +
<em><a class="a-link" target="_blank"
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8, 475. 2017.</html></ref><html><sup>,</sup> </html><ref><html>KOU, X. <em>et al.</em>,
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                href="https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5378820/">Ethylene Role in Plant Growth, Development and Senescence: Interaction with Other Phytohormones</a></em>, <em>Front Plant Sci</em>,
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8, 475. 2017.</html></ref><html>. A estratégia mais comum passa por reduzir a síntese ou ação do etileno nos tecidos
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frutos estão expostos também é uma das estratégias utilizadas, já que a redução dos níveis de
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O<sub>2</sub> e o aumento de CO<sub>2</sub> diminui a respiração e a sensibilidade ao etileno</html><ref><html>MAHAJAN, P. V. <em>et al.</em>,
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de stresse, como calor</html><ref><html>POÓR, P. <em>et al.</em>,
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343-377. 2012.</html></ref><html>. No entanto, é de referir que, dependendo da espécie, o etileno
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pode também ter uma pepel negativo nestas respostas e tornar a planta mais suscetível</html><ref><html>FATMA, M. <em>et al.</em>,
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tolerância a temperaturas mais elevadas promovida pelo etileno está relacionada com a homeostase
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etileno induz mudanças morfológicas e bioquímicas que permitem a sobrevivência da planta,
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A tolerância a metais pesados, como o arsénio</html><ref><html>FU, S. F. <em>et al.</em>,
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<br> Palavras chave: fitohormonas, ABA, giberelina, citocinina, auxina  
 
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---- <br>Criada em 15 de Setembro de 2010<br> Revista em 15 de Setembro de 2010<br> Aceite pelo editor em 11 de Janeiro de 2012<br>
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<br>---- <br>Criada em 11 de Setembro de 2023<br> Revista em 7 de Dezembro de 2023<br>Aceite pelo editor em 29 de Julho de 2024<br><br>

Edição actual desde as 13h00min de 26 de agosto de 2024

Referência : Neves, M., Correia, S., Canhoto, J., (2024) Etileno, Rev. Ciência Elem., V12(2):013
Autores: Mariana Neves, Sandra Correia e Jorge Canhoto
Editor: João Nuno Tavares
DOI: [https://doi.org/10.24927/rce2024.013]
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Resumo

O etileno, C2H4, é uma hormona vegetal que tem um papel crucial em vários processos do desenvolvimento das plantas e em repostas a vários fatores de stresse. O seu efeito nos tecidos vegetais é consequência de uma via de sinalização complexa que envolve a ativação de fatores de transcrição que controlam a expressão de inúmeros genes de resposta ao etileno. Esta hormona tem um papel fundamental no desenvolvimento da raiz, formação de pelos radiculares, senescência, abcisão foliar e maturação dos frutos. O etileno está também envolvido na tolerância a diversos fatores de stresses abióticos e bióticos como temperaturas elevadas, salinidade, seca e ataques de fungos e bactérias. De um modo geral, esta hormona destaca-se como um elemento-chave na regulação de processos de desenvolvimento, stresse e adaptação das plantas ao ambiente que as rodeia.


O etileno é uma hormona vegetal de estrutura simples, C2H4, gasosa à temperatura ambiente, que é sintetizada e libertada pelos tecidos vegetais[1]. Apesar da sua simplicidade, participa em múltiplos processos do desenvolvimento vegetal e em várias respostas aos stresses bióticos e abióticos[2]. O efeito do etileno nas plantas foi reportado pela primeira vez na ervilha, em 1901, por Dimitry Neljubov. No entanto, foi Richard Gane, em 1934, quem fez a grande descoberta de que as plantas não só respondiam ao etileno, como também o sintetizavam[3]. A correlação entre a síntese de etileno e a sua atividade biológica mostrou à comunidade científica que moléculas em estado gasoso podiam atuar também como hormonas[4]. O etileno marcou, assim, a história como a primeira molécula gasosa com função sinalizadora a ser conhecida.

A biossíntese do etileno foi bastante estudada na segunda metade do século XX, período no qual Adams e Yang identificaram a s-adenosilmetionina (SAM) e o ácido aminociclopropano carboxílico (ACC), como os seus dois intermediários[5], [6]. De um modo geral, a biossíntese desta hormona inicia-se com a conversão de SAM em ACC, pela ACC sintase, e finalmente o ACC é convertido em etileno pela ACC oxidase[7]. O uso de diversos mutantes com resposta variável ao etileno, obtidos da planta modelo Arabidopsis thaliana, permitiu ao longo dos anos não só compreender a função desta hormona no desenvolvimento vegetal, como também perceber quais os componentes da sua via de sinalização[8], dos quais se destacam os recetores de etileno. O recetor de etileno denominado Ethylene Receptor 1 (ETR1) em A. thaliana foi não só o primeiro recetor de etileno identificado, como também foi o primeiro recetor de hormonas vegetais a ser clonado e sequenciado[9]. Em A. thaliana, o etileno é reconhecido por uma família de cinco recetores denominados ETR1, ERS1 (Ethylene Response Sensor 1), ETR2, EIN4 (Ethylene Insensitive 4) e ERS2[10]. Estes recetores situam-se na membrana do retículo endoplasmático (ER) e é a partir da ligação do etileno ao recetor que se desencadeia uma via de sinalização complexa[11]. Dois componentes chave nesta via de sinalização são a proteína-cinase Constituve Triple Response 1 (CTR1) e a proteína Ethylene Insensitive 2 (EIN2), que funcionam como reguladores negativos e positivos, respetivamente (FIGURA 1). CTR1 tem a função de fosforilar EIN2 e impedir a sua função na via de sinalização; já EIN2 quando não impedida tem a função de aumentar a atividade de fatores de transcrição EIN3 e EIN3-LIKE 1 (EIL1) que, por sua vez, controlam a transcrição de genes de resposta ao etileno, como os fatores de transcrição da família ERFs (Ethylene Response Factors).

De uma maneira geral, na ausência de etileno (ar) os recetores mantêm a proteína-cinase CTR1 ativa, que por sua vez fosforila EIN2. Esta fosforilação diminui os níveis de EIN2 impedindo o seu transporte para o núcleo e a ativação dos fatores de transcrição. Na presença de etileno, a sua ligação inibe os recetores, com consequente desactivação de CTR1. A perda de atividade de CTR1 permite a clivagem da proteína não fosforilada EIN2, ancorada no ER. O domínio C-terminal de EIN2 (EIN2-C) libertado após a clivagem, é transportado para o núcleo e ativa a via de sinalização a jusante de EIN2 ao desencadear a atividade dos fatores de transcrição EIN3/EIL1[12], [13].


FIGURA 1. Esquema geral da via de sinalização do etileno e alguns dos seus componentes chave. Círculos cinzentos indicam reguladores negativos; círculos brancos indicam reguladores positivos; (\(\rightarrow )) indica efeito regulador; (⊣) indica inibição. Esquema adaptado de Dolgikh et al., 2019[14].

As diferentes respostas ao etileno revelam os inúmeros papéis em que esta hormona está envolvida, quer ao nível do desenvolvimento vegetal, quer nas respostas a vários fatores de stress (FIGURA 2). Convém lembrar que o papel do etileno é muitas vezes resultado de uma interação com outras hormonas vegetais, como as auxinas, as citocininas, as giberelinas e o ácido abscísico (ABA)[15]. O efeito do etileno nas plantas começa mesmo antes da germinação e tem um papel essencial no desenvolvimento da plântula[16]. A germinação das sementes envolve inicialmente uma quebra da dormência, que resulta de um equilíbrio hormonal entre o ABA e as giberelinas[17]. De um modo geral, o ABA mantém o fenómeno de dormência, enquanto as giberelinas quebram este efeito e promovem a germinação[18]. O etileno participa no processo de quebra da dormência, pois promove a germinação por diminuir os efeitos do ABA através da regulação do seu metabolismo e via de sinalização[19]. O etileno está também envolvido no crescimento do hipocótilo, porém o seu efeito depende da presença ou ausência de luz, observando- se o crescimento dos hipocótilos à luz, enquanto o seu alongamento é inibido no escuro[20], [21]. Ao nível do sistema radicular, o etileno tem um papel inibitório tanto no desenvolvimento da raiz principal, como das raízes laterais[22]. As auxinas e o etileno inibem sinergesticamente o desenvolvimento da raiz principal, no entanto, as auxinas são essenciais para a formação de raízes laterais[23]. O efeito inibitório do etileno no desenvolvimento radicular é inerente à sua regulação na biossíntese, transporte e acumulação de auxinas nas diferentes zonas da raiz[24], [25]. Resumidamente, o etileno leva a uma acumulação de auxinas tanto na zona meristemática como na zona de alongamento da raiz, resultando na inibição da proliferação e do alongamento celular18. Esta acumulação de auxinas no ápice da raiz impede que estas se acumulem nas zonas laterais[26], [27]. O efeito inibitório do etileno no desenvolvimento radicular é inerente à sua regulação na biossíntese, transporte e acumulação de auxinas nas diferentes zonas da raizErro de citação: </ref> de fecho em falta, para o elemento <ref>.

O etileno é também uma hormona chave no processo de envelhecimento das plantas estando envolvido no amadurecimento dos frutos e na senescência e abcisão das folhas e das flores[28]. Ao nível da folha, este fenómeno está, em grande parte, relacionado com a perda de clorofila[29], [30]; já ao nível das flores, o etileno desencadeia um conjunto de eventos celulares nos seus diferentes órgãos, que levam à sua senescência e posterior abcisão[31], [32]. O amadurecimento dos frutos climatéricos é o papel mais reconhecido do etileno, pois tem importantes aplicações económicas[33]. Os frutos climatéricos são todos aqueles que apresentam uma taxa de respiração elevada durante o seu amadurecimento, acompanhada de uma grande produção de etileno, tais como a maçã, banana, tomate, entre ouros[34]. O aumento na síntese de etileno e da sua perceção leva à ativação de fatores de transcrição da família ERF, que, de seguida, modulam a transcrição de genes de resposta ao etileno, neste caso, genes associados ao amadurecimento[35]. Este processo leva a alteações fisiológicas e bioquímicas no fruto como a redução dos níveis de clorofila e o aumento de antocianinas, modificações no metabolismo dos açúcares e na biossíntese de compostos orgânicos voláteis, que resultam na mudança de cor, amolecimento e aumento do aroma, sabor e conteúdo em açúcares[36], [37]. Controlar o processo de amadurecimento dos frutos pós-colheita é fundamental para aumentar o seu tempo de prateleira[38]. A estratégia mais comum passa por reduzir a síntese ou ação do etileno nos tecidos vegetais; por exemplo, o composto 1-metilciclopropeno (1-MCP) tem sido usado ao longo dos anos para reduzir a ação do etileno, pois atua como um inibidor competitivo para os recetores de etileno[39]. Diminuir a temperatura e controlar a atmosfera de armazenamento a que os frutos estão expostos também é uma das estratégias utilizadas, já que a redução dos níveis de O2 e o aumento de CO2 diminui a respiração e a sensibilidade ao etileno[40].


FIGURA 2. À esquerda esquema de alguns papéis do etileno no desenvolvimento e tolerância a condições de stress. À direita esquema de amadurecimento do tomate (baseado em Kou et al.. 2021[41]).

Nos últimos anos vários estudos têm reportado o papel do etileno na tolerância a vários fatores de stresse, como calor[42], hipóxia[43], metais pesados[44], salinidade[45], seca[46], e ataque de bactérias, fungos e herbívoros[47], [48]. No entanto, é de referir que, dependendo da espécie, o etileno pode também ter uma pepel negativo nestas respostas e tornar a planta mais suscetível[49]. A tolerância a temperaturas mais elevadas promovida pelo etileno está relacionada com a homeostase de espécies reativas de oxigénio (ROS), regulada por antioxidantes enzimáticos e não-enzimáticos resultando em menores danos oxidativos[50]. Em condições baixas de O o etileno induz mudanças morfológicas e bioquímicas que permitem a sobrevivência da planta, como a expressão de genes relacionados com o azoto e um aumento da respiração anaeróbia[51]. A tolerância a metais pesados, como o arsénio[52] e o cádmio[53], [54], parece estar relacionada com a modulação da transcrição de ERFs específicos resultantes da ativação da via de sinalização do etileno. O etileno promove a tolerância à salinidade através da manutenção da homeostase de Na+/K+, nutrientes e ROS, e também pelo aumento da assimilação de nitratos e sulfatos. A tolerância à seca parece estar associada a uma regulação positiva no aumento do conteúdo em açúcares e prolina de modo a combater o stress osmótico, levando a uma diminuição da peroxidação lípica[55]. O ataque de agentes patogénicos, como bactérias e fungos é acompanhado pela ativação de fatores de transcrição que estão envolvidos na regulação de genes associados à imunidade, tornando a planta menos suscetível31.

Numa altura em que as preocupações relacionadas às alterações climáticas e à segurança alimentar estão em destaque, o etileno revela-se como uma hormona chave na regulação da capacidade adaptativa das plantas. Assim, é essencial compreender os múltiplos papéis do etileno e os seus mecanismos de sinalização para encontrar novas estratégias que otimizem o desenvolvimento das plantas e a sua adaptação a ambientes pouco favoráveis.

 

Referências

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Palavras chave: fitohormonas, ABA, giberelina, citocinina, auxina


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  1. Ação do Etileno na maturação dos frutos, porque é que os frutos ficam mais maduros se deixados ao ar?


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Criada em 11 de Setembro de 2023
Revista em 7 de Dezembro de 2023
Aceite pelo editor em 29 de Julho de 2024