Método de redução ao absurdo

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Referência : Tavares, J., Geraldo, A., (2017) Método de redução ao absurdo, Rev. Ciência Elem., V5(4):085
Autor: João Nuno Tavares e Ângela Geraldo
Editor: José Ferreira Gomes
DOI: [https://doi.org/10.24927/rce2017.085]
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Índice

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O método de prova por redução ao absurdo

O método de redução ao absurdo é um método de prova matemática para validar se uma proposição do tipo:

PQ

é verdadeira.

Consiste no seguinte argumento: supômos que Q é falsa e provamos que então P também o é. Como? Em geral derivando uma "contradição" ou um "absurdo", isto é, algo incompatível com a veracidade assumida de P.

Exemplos

2 é um número irracional

Usando o método de redução ao absurdo provar que:

2  é um número irracional

Note que isto pode ser posto na forma se ... então , ..., pondo se 2 é um número então 2 é irracional.

Suponho que 2 é um número racional e derivo uma contradição ou um absurdo.

Mas o que é um número racional? - é um número da forma mn com m,nZ,n0. De facto, e este é um elemento essencial na prova, podemos sempre supôr que a fracção mn é irredutível, isto é, que não existe qualquer inteiro 1 que divide simultâneamente m e n.

Agora a prova prossegue sem dificuldade:

  • suponho que 2 é um número racional, isto é, que 2=mn, com m,nZ,n0 e a fracção mn irredutível.
  • então 2=m2n2 e portanto:

m2=2n2            ...............        ()

o que significa que m2 é par.

  • m2 sendo par, m também tem que ser par. Porquê? porque se m fosse ímpar também m2 o seria (prove isto).
  • logo existe um inteiro kZ tal que m=2k
  • substituindo na equação (*) vem que (2k)2=2n2, isto é, n2=2k2, o significa que n2 é par.
  • sendo n2 par n é também par
  • concluímos pois que m e n são ambos pares, isto é, são ambos divisíveis por 2.
  • mas isto é absurdo porque suposémos a fracção mn irredutível.

O absurdo resultou de termos suposto que 2 é um número racional. Logo 2 é um número irracional.

QED


Um outro

Utilizemos agora o método de redução ao absurdo para provar que:

Se a, b e c números inteiros ímpares então a equação quadrática ax2+bx+c=0 não possui raízes racionais.


Suponhamos que p/q é uma raiz racional da equação acima, com p e q primos entre si. Assim,

a(pq)2+b(pq)+c=0ap2+bpq+cq2=0

  • Se p e q são ímpares, então ap2+bpq+cq2 também é ímpar, portanto não nulo e daí que p/q não seja solução da equação quadrática referida;
  • Se p é par e q é ímpar, então ap2 é par, bpq é par e cq2 é ímpar e portanto não nulo. Analogamente, se p é ímpar e q é par, ap2+bpq+cq2 é ímpar e assim não nulo;

Verificamos que ap2+bpq+cq2 não se anula nestas condições. Portanto, chegamos a uma contradição pois p/q não é uma raiz da equação quadrática ax2+bx+c=0 com a, b e c números ímpares.

A contradição resultou do facto de termos suposto que esta equação tinha raízes racionais. Logo, a equação ax2+bx+c=0 com a, b e c números inteiros ímpares não tem raízes racionais.

QED




Criada em 30 de Novembro de 2012
Revista em 21 de Maio de 2013
Aceite pelo editor em 31 de Dezembro de 2017