Desenvolvimento embrionário humano

Da WikiCiências
Share/Save/Bookmark
Ir para: navegação, pesquisa

Referência : Moreira, C., (2014) Desenvolvimento embrionário humano, Rev. Ciência Elem., V2(4):248
Autor: Catarina Moreira
Editor: José Feijó
DOI: [http://doi.org/10.24927/rce2014.248]
PDF Download



Após a fecundação a nova célula diplóide sofre várias divisões mitóticas sucessivas, originando um indivíduo com milhões de células organizadas em tecidos e órgãos, ao final de cerca de 266 dias. Ao período de desenvolvimento embrionário chama-se gestação.

Primeiro trimestre de gestação

A primeira divisão mitótica do zigoto ocorre cerca de 24 horas após a fecundação, iniciando-se a segmentação. Esta fase decorre ao longo da trompa de Falópio, e dura alguns dias. O número de células vai aumentando, mas sem a dimensão global se alterar. Quando chega ao útero, a mórula tem 16 células.

A mórula transforma-se por segmentação numa estrutura, o blastocisto, constituída por uma cavidade cheia de liquido uterino, o blastocélio, uma massa de células que dará origem ao novo ser, o botão embrionário, e uma camada de células externa, o trofoblasto. As células do botão embrionário são estaminais, isto é, são totipotentes podendo potencialmente cada uma delas dar origem a um novo ser. Quando o blastocisto entra em contacto com o endométrio, inicia-se a implantação do embrião. A implantação do embrião no endométrio chama-se nidação e leva cerca de 5 dias. Durante este período as células do trofoblasto produzem enzimas que catalizam a digestão do epitélio uterino, permitindo ao embrião penetrar na parede uterina. Esta estrutura dará origem à maior parte dos anexos embrionários que permitem que o desenvolvimento embrionário ocorra no interior do organismo materno. Os anexos embrionários – âmnio, córion, saco vitelino, alantóide e placenta – formam-se quando se inicia a nidação. O córion, possui vilosidades que vão penetrar nas lacunas do endométrio preenchidas por sangue materno devido à ruptura dos capilares. O embrião fica totalmente coberto pela mucosa interina aos 11-12 dias, estando completa a nidação.

Nas primeiras duas a quatro semanas o embrião obtém os nutrientes directamente do endométrio.

Ao fim de cerca de 15 dias, começa a ocorrer a gastrulação e o início da organogénese. Dá-se a diferenciação celular a partir dos três folhetos embrionários (ectoderme, mesoderme e endoderme), em tecidos, órgãos e sistemas de órgãos. Destino dos folhetos embrionários:

  • ectoderme: sistema nervoso, órgãos sensoriais, epiderme e pêlos
  • mesoderme: derme, esqueleto, músculos, sistemas reprodutor, excretor e circulatório
  • endoderme: sistema respiratório, revestimentos do tubo digestivo, da vagina e da bexiga, glândulas do tubo digestivo, fígado e pâncreas

O coração começa a bater a partir da 4a semana, e a partir da 8a semana o embrião passa a chamar-se feto e é aparentemente um ser humano, que apesar de já bem diferenciado tem apenas 5 cm no final do 1º trimestre. Formam-se também os outros anexos durante este período:

  • o âmnio: membrana que delimita a cavidade amniótica preenchida pelo líquido amniótico, no qual se encontra imerso o embrião. O líquido impede a desidratação e protege dos choques mecânicos.
  • a vesícula vitelina, e o alantóide, embora sejam muito importantes noutras espécies, nos mamíferos são pouco relevantes, e o seu papel é assumido por um outro anexo embrionário, a placenta.
  • a placenta: estrutura em forma de disco, formada a partir das vilosidades coriónicas do embrião e do endométrio materno. Encontra-se ligada ao embrião através de um canal formado a partir do âmnio, o cordão umbilical, no qual existem duas artérias e um veia. Estes vasos estão interligados por capilares através dos quais se fazem as trocas de substâncias entre a mãe e o embrião. Ao nível hormonal tem também um papel muito importante.

Na mãe, cessa a menstruação e os seios aumentam.


Segundo e terceiro trimestres da gestação – período fetal

Durante o segundo trimestre o feto cresce rapidamente e atinge os 30 cm e mostra-se muito activo. No último trimestre atinge, geralmente, os cerca de 3 kg e um comprimento de cerca de 50 cm. A actividade fetal pode diminuir visto o espaço ser limitado.


O parto

O bebé finalmente nasce. Este processo divide-se em três fases:

  • dilatação do colo do útero: abertura e dilatação do cérvix da mãe, saída do liquido amniótico (daí a expressão popular “rebentamento das águas”), surgem as primeiras contracções rítmicas uterinas
  • expulsão do bebé: fortes contracções uterinas forçam o feto a sair do útero através da vagina. Os pulmões do bebé outrora cheios de liquido amniótico enchem-se de ar pela primeira vez. O cordão umbilical é cortado.
  • expulsão da placenta: a placenta e os restantes anexos embrionários são expulsos do corpo da mãe


Regulação Hormonal na nidação e gestação

As células do blastocisto segregam hormona gonadotropina coriónica (hCG) que actua no corpo lúteo do ovário. A hCG tem uma acção semelhante à hormona LH, induz o crescimento do corpo lúteo para que a secreção de estrogénios e de progesterona continue, evitando assim a secreção de FHS e LH pela hipófise até depois do nascimento. Esta regulação hormonal inibe a formação de um novo folículo e descamação do endométrio. O endométrio uterino forma hCG a partir do 1º dia após a nidação, sendo detectada na urina, por exemplo, através dos testes de gravidez (os mais correntes vendidos em farmácias e supermercados). Posteriormente, são o córion e depois a placenta que sintetizam a HCG. Perto da 7a semana a placenta começa a produzir progesterona, substituindo o corpo lúteo. E na 12a passa a ser um função única da placenta, e o corpo lúteo deixa de ser necessário e degenera. A progesterona e estrogénios produzidos pelo corpo lúteo ou pela placenta iniciam o crescimento dos tecidos mamários para a preparação da lactação. A hipófise anterior produz prolactina, fundamental nas glândulas mamárias. Durante a gravidez a produção de leite é inibida pela progesterona. Aumentam o número de glândulas produtoras de leite (lóbulos) e no final do terceiro trimestre estas glândulas podem produzir colostro, um liquido amarelo que fornece ao recém-nascido proteínas, vitaminas, minerais e anticorpos.


Regulação hormonal no parto

No final da gestação a parede do útero sofre alterações, ficando mais esticada e comprimida pelo feto, que aumentou bastante de tamanho. Nesta fase os níveis de estrogénio são superiores aos da progesterona, as células da placenta começam a produzir prostaglandinas, hormonas que causam a contracção da musculatura lisa do útero. A pressão que a cabeça do feto exerce sobre o colo do útero gera a formação de impulsos nervoso para o cérebro da mãe, que liberta a hormona oxitocina pela hipófise posterior. Ambas a oxitocina e a prostaglandinas causam contracções do útero, forçando o nascimento do feto.

Regulação hormonal no aleitamento

Durante a gestação é produzida prolactina pela hipófise anterior. O efeito desta hormona é retardado pela progesterona e estrogénio, cujos níveis baixam muito no nascimento do bebe permitindo que a prolactina accione a produção de colostro e depois de leite. A própria sucção do mamilo pelo recém-nascido induz a produção de prolactina que estimula as glândulas mamárias a produzirem mais leite.



Materiais relacionados disponíveis na Casa das Ciências:

  1. Controlo das células estaminais mamárias, como se faz o controlo hormonal das células estaminais
  2. Células estaminais mamárias, veja a estrutura da glândula mamária durante a gravidez.
  3. Da Célula ao Embrião, como se forma o embrião humano?


Criada em 15 de Setembro de 2010
Revista em 16 de Setembro de 2010
Aceite pelo editor em 10 de Janeiro de 2012