Uma coleção de oliveiras em Oeiras

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Referência : Lima, M. A. A., (2022) Uma coleção de oliveiras em Oeiras, Rev. Ciência Elem., V10(1):014
Autor: Maria Alexandra Abreu Lima
Editor: João Nuno Tavares
DOI: [https://doi.org/10.24927/rce2022.014]
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Resumo

Em Oeiras, no campus do INIAV, existe uma coleção de oliveiras que para além do seu interesse para a investigação agrária, tem interesse educativo. Neste artigo referem- se alguns dados sobre esta espécie e a metodologia de divulgação da coleção de oliveiras.


Oliveira — uma árvore típica do mediterrâneo com relevância económica

A oliveira (Olea europaea L.) da Família Oleaceae tem sido amplamente cultivada através dos tempos em olivais tradicionais ou intensivos. O seu fruto — a azeitona — e o óleo que dela se extrai — o azeite — usam-se para fins alimentares, sendo parte importante da dieta mediterrânica. Esta fruteira lenhosa é, de uma maneira geral, tolerante ao stress hídrico e adapta-se bem a uma ampla gama de solos e de condições culturais, incluindo os solos ácidos e alcalinos.

Os resultados do inquérito da União Europeia (UE) relativo à área ocupada com oliveiras na UE[1] indicaram que esta representava cerca de 4,6 milhões de hectares em 2017. Este inquérito englobou apenas os oito Estados-Membros da UE que possuíam áreas de oliveiras superiores a 1000 hectares. A Espanha (com 55% da área total) e a Itália (com 23% da área total) tinham mais de três quartos da área total da UE com oliveiras, seguidos da Grécia (15%) e Portugal (7%). Os outros quatro Estados-Membros abrangidos pelo inquérito (França, Croácia, Chipre e Eslovénia) representavam em conjunto 1% da área total de oliveiras da UE. Deste modo, Portugal tem a nível da UE, a quarta maior área de plantação de oliveiras, sendo esta cultura importante para a economia nacional.

A nível mundial, a zona ecológica onde existem oliveiras situa-se entre as latitudes 30o e 45o nos hemisférios Norte e Sul, em regiões com clima mediterrânico. A oliveira é uma árvore tão típica do clima mediterrânico que a sua presença num dado território pode qualificar, na opinião de Moriondo et al. (2008)[2], o clima desse território como sendo mediterrânico e daí também se afirmar que “Onde a oliveira não chega, o Mediterrâneo morre”.

Hoje em dia, centenas de variedades de oliveira são descritas e referenciadas para a produção de azeite e/ou azeitona de mesa, sendo algumas delas específicas e provenientes de determinadas regiões. No Catálogo Nacional de Variedades – CNVFruteiras (DGAV, 2016)[3] são referidas as variedades de Olea europaea L. com aptidão para produção de frutos.


A biodiversidade da oliveira

Hoje em dia, centenas de variedades de oliveira são descritas e referenciadas para a produção de azeite e/ou azeitona de mesa. Ao longo de milénios foram surgindo várias variedades de oliveiras em resultado de inúmeros cruzamentos espontâneos, de várias mutações genéticas, da dispersão natural de frutos e sementes, bem como da domesticação de muitas delas, tendo esse melhoramento sido feito por agricultores desde a Antiguidade, sobretudo na região mediterrânica. Deste modo, desde os tempos da Grécia Antiga, que as cultivares de oliveira foram sendo propagadas vegetativamente (por estacaria ou enxertia), permitindo a reprodução dos melhores genótipos, levando à atual diversidade varietal.

Manter esta elevada biodiversidade de germoplasma da oliveira é importante para o melhoramento e obtenção de cultivares superiores, consideradas melhores pelos olivicultores, em termos de produtividade; melhor adaptação a condições específicas de um dado local; ou ainda uma melhor resistência a stresses existentes (dado nem todas as oliveiras resistirem do mesmo modo aos stresses bióticos — por ex., bactérias e fungos; e/ou abióticos — por ex., geadas ou secura).


Coleções de oliveiras no mundo

As coleções de oliveiras são uma ferramenta útil na preservação e certificação do seu germoplasma, dado verificar-se uma tendência para o estabelecimento de olivais modernos baseados apenas nalgumas cultivares, constituindo um fator conducente a uma erosão genética da espécie[4].

A maior base de dados atual sobre coleções de oliveiras em todo o mundo, foi construída com base em informação recolhida na internet em 2008, a partir de cerca de 1520 publicações e pode ser consultada em http://www.oleadb.it/. Nesta base de dados encontram- se dados de coleções de 29 Países, sendo referidas para Portugal um conjunto de 3 coleções, localizadas em Elvas, Vila Franca de Xira e em Oeiras.


A coleção de oliveiras em Oeiras

A coleção de oliveiras que existe em Oeiras foi instalada durante projetos de investigação nas décadas de 1980-90, pela Secção de Melhoramento da Oliveira, do Departamento de Genética e Melhoramento da ex-Estação Agronómica Nacional, pelo Eng.º Fausto Leitão e outros investigadores[5], [6]. Nesta coleção (FIGURA 1) há exemplares de variedades de oliveira nacionais e de outras de cinco países do Mediterrâneo (Espanha, França, Grécia, Itália e Marrocos). Em concreto, esta coleção resultou de um ensaio comparativo de cultivares, instalado no âmbito do projeto Cooperative Research Network on Olives da FAO. Existem 49 exemplares dos 65 plantados em 1989 (FIGURA 1). As árvores desta coleção foram também objeto de estudo do Projeto Conservation, Characterisation, Collections and Utilisation of Genetic Resources in Olive RESCEN-CT-96/97 (1997-2002), do Conselho Oleícola Internacional[7].

Este projeto foi relevante em termos científicos, pois foram descritas 548 variedades autóctones, existentes em coleções de cinco países (Espanha, França, Grécia, Itália e Portugal), utilizando uma metodologia de caracterização comum, previamente discutida, analisada e aprovada.


FIGURA 1. Pormenor da coleção de oliveiras, em Oeiras. (Foto: A. Lima. 2017)

Deste modo, a coleção tem exemplares das cultivares (País de origem): (A) Arbequina (Espanha); (B) Branquita (Portugal); (C) Carolea (Grécia); (L) Leccino (Itália); (M) Manzanilla (Espanha); (PM) Picholine Marocaine (Marrocos) e (P) Picholine (França). Nas linhas de bordadura há exemplares das seguintes dez cultivares: (1) Azeitoneira; (2) Branquita; (3) Cobrançosa; (4) Conserva de Elvas; (5) Cordovil de Serpa; (6) Cordovil de Castelo Branco; (7) Galega vulgar; (8) Maçanilha Algarvia; (9) Picual e (10) Redondil. Estas variedades foram descritas por Leitão et al. (1986)[8].


Visitas à coleção de oliveiras

No contexto atual, em que muitas crianças e jovens crescem em zonas urbanas, com pouco contacto com a natureza e a biodiversidade que nos permitem viver, propõe-se com as visitas à coleção de oliveiras dar um contributo para inverter esta tendência e divulgar aspetos sobre esta espécie.

A coleção de oliveiras está disponível para visitas de estudo com comunidades educativas e com o público em geral, tendo por objetivo principal o envolvimento ativo dos visitantes na temática da biodiversidade, sendo divulgados aspetos da oliveira referentes à sua biologia, fitogeografia, para além de dados sócioeconómico-culturais que lhes estão associados.

As visitas à coleção de oliveiras, durante o mês de maio permitem dar a conhecer a etapa de floração das oliveiras e de início de formação de fruto (FIGURA 2).


FIGURA 2. Visita de alunos à coleção de oliveiras no campus do INIAV, I.P., em Oeiras. (Foto: A. Lima. 2019)

Cada visita tem a duração aproximada de 2 horas, sendo distribuídos aos alunos um desdobrável com informação sobre as oliveiras da coleção (por ex., países de onde provêm as árvores; designações das variedades). Deste desdobrável consta uma ilustração da Flora Ibérica (www.floraiberica.es) com desenhos de vários órgãos da planta para dar a conhecer a sua morfologia (FIGURA 3).


FIGURA 3. Aspeto dos desdobráveis com ilustração de diversos órgãos da oliveira.

Aos alunos são disponibilizadas lupas para uma melhor visualização de órgãos e estruturas como as flores, nervuras das folhas, entre outros aspetos (FIGURA 4).


FIGURA 4. Alunos a observar com lupa diversos órgãos da oliveira.

Esta coleção pode também ser visitada na época do outono, permitindo ver as azeitonas já completamente formadas e verificar diferenças entre os frutos das diversas variedades das oliveiras dos seis países.


NOTA

As visitas à coleção de oliveiras favorecem um contacto direto dos jovens com a natureza e permitem divulgar esta espécie, realçando o seu uso não só para fins alimentares, como também, por ex., na área da cosmética, fisioterapia, higiene e saúde humana.


Para saber mais sobre a coleção

http://www.iniav.pt/fotos/editor2/oliveiras.pdf

Referências

  1. EUROSTAT, Olive trees cover 4.6 million hectares in the EU. 2019.
  2. MORIONDO, M. et al., Reproduction of olive tree habitat suitability for global change impact assessment, Ecological Modelling, 218 (1-2), 95-109. 2008. DOI: 10.1016/j.ecolmodel.2008.06.024.
  3. DGAV, Catálogo Nacional de Variedades Fruteiras, Lisboa. 2016.
  4. MOUSAVI, S. et al., The First Molecular Identification of an Olive Collection Applying Standard Simple Sequence Repeats and Novel Expressed Sequence Tag Markers, Front. Plant Sci., 8, 1283. 2017.
  5. LEITÃO, F., Relatório Final do Projeto Valorização do material vegetativo e conservação dos recursos genéticos da oliveira (Olea europaea L.) em Trás os Montes e Alto Douro, DRAPTM. U. Évora. INIA-EAN, 22 pp.. 2001.
  6. LEITÃO, F. et al., Descrição de 22 variedades de oliveira cultivadas em Portugal, M.A.P.A., Lisboa. 1986.
  7. COI, Projet sur la conservation, caractérisation, collet et utilisation des resources génétiques de L´oliver (RESGEN-CT 96/97), CE. 1997.
  8. LEITÃO, F. et al., Descrição de 22 variedades de oliveira cultivadas em Portugal, M.A.P.A., Lisboa. 1986.


Criada em 19 de Janeiro de 2021
Revista em 1 de Março de 2021
Aceite pelo editor em 15 de Março de 2022