Tecidos das Angiospérmicas

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Referência : Moreira, C., (2015) Tecidos das Angiospérmicas, Rev. Ciência Elem., V3(4):208
Autor: Catarina Moreira
Editor: José Feijó
DOI: [http://doi.org/10.24927/rce2015.208]



O crescimento contínuo das plantas é possível porque as células dos meristemas mantém características embrionárias toda a vida. As células dos novos tecidos que se especializaram e perderam a capacidade de se dividir, pelo menos temporariamente, constituem os tecidos definitivos.


Meristemas

Os meristemas são formados por células não especializadas, com capacidade de se dividir, geralmente de forma cúbica, paredes celulósicas finas, citoplasma denso e núcleo volumoso. São células totipotentes porque podem dar origem a qualquer tipo de células da planta.

O crescimento das plantas depende da actividade dos meristemas.

Os meristemas existem na extremidade das raízes e dos caules – meristemas apicais – cuja actividade assegura o crescimento longitudinal destes órgãos. A partir da actividade dos meristemas apicais formam-se células com algum nível de diferenciação mas que ainda mantêm a capacidade de se dividir – os meristemas primários – que são: a protoderme, o meristema fundamental e o procâmbio.

O crescimento da raiz e do caule ocorre não só pela multiplicação celular mas também pelo alongamento das células. Os tecidos dos meristemas primários vão-se diferenciando até se tornarem verdadeiros tecidos – tecidos definitivos. A protoderme diferencia-se em epiderme; o procâmbio nos tecidos condutores (xilema e floema) e o meristema fundamental diferencia-se nos tecidos da zona cortical da raiz e da zona cortical e medular do caule.


Em algumas plantas existe também crescimento em diâmetro, que se deve à actividade dos meristemas secundários que originam tecidos definitivos secundários. Os meristemas secundários localizam-se em certas zonas da raiz e do caule formando uma camada cilíndrica de células que por, divisão, origina novas células para o interior e exterior provocando o engrossamento do órgão. Os meristemas secundários têm origem em tecidos definitivos primários que readquirem a capacidade de se dividir. As suas células são geralmente mais alongadas e possuem vacúolos. Os câmbios são os meristemas secundários responsáveis pelo engrossamento dos órgão vegetativos.


Tecidos definitivos

A diferenciação das células meristemáticas origina diferentes tecidos que desempenham actividades diversificadas na planta.

O quadro seguinte resume os tipos de tecidos e algumas das suas funções e localização.


Tecidos vegetais

Tipo de tecidos

Principais funções

Localização

Dérmicos

Epiderme

Protecção

Trocas com o meio exterior

Revestem os órgãos

Fundamentais

Parênquima

Secreção, armazenamento de substâncias de reserva

Fotossíntese

Em vários órgãos: caules, raízes, folhas e frutos

Colênquima

Suporte

Por baixo da superfície da planta

Acompanha as nervuras das folhas

Esclerênquima

Suporte

Diferentes órgãos

Comum em caules e folhas

Condutores ou de transporte

Xilema

Transporte de seiva bruta

Suporte

Raiz, caule e folhas

Floema

Transporte de seiva elaborada

Raiz, caule e folhas


Tecidos dérmicos

A epiderme é um tecido vivo constituído por uma camada de células justapostas que reveste os órgãos formados a partir do crescimento primário. Nos órgãos aéreos as células da epiderme apresentam uma das paredes mais espessa para proteger das perdas de água. Essas células estão cobertas, geralmente, por uma substância impermeável – a cutina. Nas epidermes cutinizadas (i.e. impermeáveis) existem estruturas – os estomas – constituídas por duas células-guarda ou células-labiais que delimitam a abertura para o exterior – o ostíolo – do espaço interior – a câmara estomática.

Nas raízes a epiderme não é cutinizada para que possa ocorrer absorção de água e nutrientes ao nível da células. A epiderme pode também conter partículas minerais como sílica (nas gramíneas) ou cêra (em alguns frutos e folhas).


A periderme ao nível da raiz e do caule, substitui a epiderme onde há crescimento secundário. A camada mais externa é constituída por células mortas impregnadas de uma substância impermeável, a suberina, designando-se o tecido de súber. Em alguns casos o súber torna-se bastante espesso podendo ser retirado e utilizado para fins comerciais como é o caso da cortiça do sobreiro.


Tecidos fundamentais

Os tecidos fundamentais são tecidos simples por serem constituídos por apenas um tipo de células cada. Incluem os parênquimas, os colênquimas e os esclerênquimas.


Os parênquimas são tecidos essencialmente elaboradores ou de reserva. São formados por células vivas, pouco diferenciadas, com paredes celulósicas e finas, o citoplasma é reduzido, o núcleo relativamente pequeno e, frequentemente, possuem um grande vacúolo. A forma das células é variável podendo ser prismáticas ou esféricas. Se as células forem esféricas o parênquima apresenta espaços intercelulares – os meatos (pequenos) ou lacunas (maiores).

Os parênquimas têm funções metabólicas diversas, incluindo fotossíntese, armazenamento ou secreção de substâncias.

O parênquima clorofilino, tal como o nome indica, é um tecido cujas células possuem cloroplastos com clorofilas. As células podem ser prismáticas e justapostas – parênquima em paliçada – ou esféricas e com espaços intercelulares – parênquima lacunoso.

Os parênquimas de reserva têm células com diferentes substâncias armazenadas  - amido, prótidos, etc. Estas células contêm organitos especializados como os amiloplastos que armazenam amido.

Os  parênquimas secretores têm células que produzem substâncias para serem segregadas como a resina, o látex. O parênquima resinífero produz a resina nos pinheiros e o parênquima lactífero o látex nas árvores da borracha.


Os colênquimas e esclerênquimas são tecidos de suporte comuns nas raízes, caules e folhas. Os colênquimas estão geralmente associados a plantas mais jovens e os esclerênquimas a plantas mais velhas.

O colênquima é um tecido formado por células vivas, geralmente, de forma prismática, cujas paredes são espessadas por depósitos sucessivos de celulose. A celulose pode depositar-se em diferentes locais:

* se as células forem esféricas apresentando meatos entre elas, a celulose deposita-se no interior e exterior da parede preenchendo os meatos.

* se as células forem prismáticas e sem meatos, os depósitos de celulose ocorrem sobretudo ao longo das arestas do prisma formando um colênquima angular

* os depósitos podem ainda ocorrer tangenciais às paredes ficando as radiais sem espessamentos.


O esclerênquima é constituído por células mortas com paredes espessadas pela deposição de celulose e de lenhina, que lhes confere rigidez e resistência. Nas paredes aparecem por vezes canais que permitem a comunicação entre células vizinhas e que correspondem aos espaços ocupados pelos plasmodesmos nas células ainda vivas.

As células do esclerênquima podem ter forma regular e estar agrupadas em conjuntos como na casca das nozes e nos caroços dos pêssegos, cerejas etc. Podem também ser alongadas e fusiformes, constituindo fibras esclenquimatosas, que aparecem junto aos sistemas condutores de alguns caules e folhas. As células podem também aparecer isoladas no meio de um parênquima – os escleritos.


Tecidos de transporte

 Nas plantas vasculares existem dois tiposs de tecidos de transporte: o floema e o xilema, com células especializadas e funções muito especificas.

O xilema ou lenho é especializado no transporte de água e sais minerais dissolvidos que constituem a seiva bruta. O floema ou líber é especializado no transporte de água e susbtâncias orgânicas, nomeadamente a sacarose, que constituem a seiva elaborada.


Xilema

O xilema é constituído por quatro tipo células:

* elementos condutores: células mortas onde circula a seiva bruta (água e sais minerais), que podem ser de dois tipos:

** traqueídos: células longas e estreitas com paredes laterais lenhificadas e perfuradas. As extremidades afiladas, oblíquas têm apenas uma parede fina e contactam entre si, permitindo a passagem de água e sais minerais. O núcleo e o citoplasma destas células degeneram quando atingem a maturidade funcional. Quando maduros os traqueídos são células mortas.

** elementos de vasos: com comprimento inferior e diâmetro superior ao dos traqueídos, são também células mortas, alinhadas topo a topo e cujas paredes laterias apresentam espessamentos de lenhinha (substância que lhes confere rigidez e impermeabilidade). No final da sua maturação perdem as paredes transversais formando um tubo que permite uma coluna contínua de água.

* fibras lenhosas: também constituídas por células mortas de paredes muito espessas devido à deposição de lenhina que desempenham funções de suporte

* parênquima lenhoso: são as únicas células vivas deste tecido, pouco diferenciadas, que se podem dividir e transformar em qualquer das células do tecido lenhoso.


Floema

O floema é formado por células vivas de quatro tipos:

* células crivosas: células vivas mas com o citoplasma muito modificado, sem núcleo, altamente especializadas, ligadas entre si topo a topo formando os tubos crivosos. As paredes transversais, denominadas placas crivosas, possuem crivos ou poros, que permitem o contacto do citoplasma entre células. Estes poros são largos e com proteínas filamentosas que atravessam as células. Estas células são análogas (têm a mesma origem mas são morfologicamente diferentes e têm funções diferentes) dos traqueídos e elementos dos vasos no xilema, mas permanecem vivos para a sua função.

Os microporos durante o inverno podem ficar obstruídos por calose, um carbohidrato da parede celular, impedindo assim que o transporte através dos tubos crivosos. A calose dissolve-se na primavera.

* células de companhia: são células de parênquima especializadas, mas com todos os organelos. Situam-se junto dos tubos crivosos com os quais mantém ligações citoplasmáticas. Formam-se a partir de uma célula do câmbio que se divide de forma desigual: a célula maior origina uma célula crivosa e a mais pequena uma célula de companhia.

* parênquima liberino: é formado por células vivas e pouco diferenciadas que se podem dividir e transformar em qualquer das células do tecido liberino.

* fibras liberinas: são as únicas células mortas do floema e exercem função de suporte.



Criada em 23 de Dezembro de 2010
Revista em 27 de Dezembro de 2010
Aceite pelo editor em 10 de Janeiro de 2012