Contracepção

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Referência : Moreira, C., (2014) Contraceção, Rev. Ciência Elem., V2(2):141
Autor: Catarina Moreira
Editor: José Feijó
DOI: [http://doi.org/10.24927/rce2014.141]
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A contracepção é a prevenção deliberada e consciente da procriação. A tomada de decisão implica a escolha de um ou mais métodos contraceptivos adaptados à situação de cada indivíduo. Os métodos contraceptivos podem actuar de três formas:

  • alterando a gametogénese e impedindo a libertação dos gâmetas das gónadas
  • evitando a fecundação
  • impedindo a implantação do embrião no útero

Alguns métodos são mais radicais, como a esterilização feminina ou masculina, e geralmente, irreversíveis. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) um método contraceptivo deve ser eficaz e reversível, e actualmente existem muitos métodos disponíveis. A escolha e utilização de qualquer um dos métodos deve ser aconselhada e devidamente acompanhada por um médico.


Índice

Métodos que actuam ao nível da gametogénese

Neste grupo incluem-se os contraceptivos hormonais utilizados pelas mulheres: os contraceptivos orais, os implantes, os injectáveis, os adesivos e o anel vaginal. A forma como estes métodos actuam é através do fornecimento de hormonas ao organismo estabelecendo um feedback negativo no complexo hipotálamo-hipófise, impedindo a ovulação.

  • contraceptivos orais: vulgarmente designados por pílulas, contém hormonas que impedem o desenvolvimento folicular e a ovulação e provocam o espessamento do muco cervical. Assim, não só não se forma o gâmeta feminino, o óvulo, como também é dificultado o acesso dos espermatozóides (gâmetas masculinos) ao útero. Existem dois tipos de pílulas, as combinadas – combinação de estrogénio sintético e progestagénio (semelhante à progesterona) – e as progestativas – apenas com progestaténio. As pílulas são tomadas diariamente podendo ou não haver um período de interrupção (Fig.1). A eficácia deste método é elevada mas a toma irregular (esquecimento de uma ou mais pílulas) ou a toma simultânea com outros medicamentos (por exemplo, alguns antibióticos) pode reduzir a sua eficácia.

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Figura 1. Pílula anticonceptiva oral

  • adesivos semanais: libertam, tal como os contraceptivos orais, hormonas para o organismo. São colocados na pele semanalmente durante três semanas, seguindo-se uma semana de interrupção (Fig.2).

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Figura 2. Adesivo contraceptivo

  • implantes: são aplicados sob a pele e podem durar até 5 anos. Ao longo do período de actuação vão libertando progesterona para o sangue.
  • injecções: actuam de forma semelhante aos métodos anteriores sendo compostas por progestagénio. Têm uma periodicidade de toma de três meses.
  • anel vaginal: tal como o nome indica é de uso vaginal sendo implantado na vagina pela mulher, devendo permanecer colocado durante três semanas consecutivas. Este anel flexível está impregnado de estrogénio e progestagénio que se libertam lentamente para a corrente sanguínea.


Métodos que impedem a fecundação

Neste grupo podem-se identificar dois tipos de métodos, os naturais e os de barreira.

Métodos naturais

Nos métodos contraceptivos naturais a mulher monitoriza o seu organismo tentando detectar a data da ovulação e através da abstinência sexual durante os dias que correspondem ao seu período fértil, evita a fecundação dos seus óvulos pelos espermatozóides. Estes métodos requerem uma grande auto-disiciplina e um bom conhecimento do seu organismo, e são também de difícil aplicação dada, em parte, a subjectividade sobre a avaliação dos diferentes estádios do ciclo menstrual. É fundamental ter em conta que num ciclo regular de 28 dias, a ovulação ocorre cerca do 14º dia após o início do período menstrual; que o oócito II pode ser fecundado durante 24 horas após a ovulação e que os espermatozóides podem permanecer activos no corpo da mulher durante três ou quatro dias após a penetração com ejaculação durante o acto sexual.

  • método do ritmo ou do calendário: cálculo do período fértil. É necessário recolher dados ao longo de cerca de vários ciclos. Com uma série temporal de dados referente a 12 ciclos, para se obter os dias em que deve haver abstiníncia sexual total, subtrai-se 18 dias ao mais curto dos doze ciclos e ao mais longo 11 dias. Por exemplo, uma mulher cujo ciclo mais curto é de 25 dias e o mais longo é de 28 dias, temos 25 – 18 = 7 e 28 – 11 = 17, ou seja, o período fértil é entre o 7º e o 17º dia do ciclo, devendo entre esses dias, inclusive, não ter relações sexuais.
  • método da temperatura: a mulher deverá medir a sua temperatura corporal basal (temperatura ao acordar de manhã antes de qualquer esforço) diariamente (Fig.3). A temperatura corporal é ligeiramente mais baixa antes da ovulação e sobe umas décimas após esta. A abstinência sexual deverá ocorrer durante o período de tempo que decorre a menstruação até 48-72 horas após a ovulação.

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Figura 3. Variação da temperatura corporal basal durante o ciclo menstrual feminino.

  • método da mucosidade ou do muco cervical: através da observação do muco cervical a mulher pode manter relações entre o final da menstruação até ao aparecimento de maior quantidade de muco (e mais elástico) que antecede a ovulação.
  • método sintotérmico: conjuga o método da mucosidade com a temperatura interpretando-os com base nos conhecimentos da mulher sobre o seu ritmo de ciclos mentruais.

Atenção: o método do coito interrompido não deve ser considerado um método contraceptivo! O facto de o homem retirar o pénis da vagina antes da ejaculação, não só exige um grande autocontrolo por parte do homem como é também bastante falível uma vez que pode ocorrer saída de espermatozóides da uretra durante a fase de excitação do pénis (antes da ejaculação).

Métodos de barreira

O objectivo destes métodos é evitar que os espermatozóides atinjam o útero e as trompas de Falópio onde poderia ocorrer a fecundação.

  • preservativo masculino: é feito de látex ou de poliuretano e vem, geralmente, já lubrificado (fig.4) . Deve ser colocado no pénis em erecção (antes de haver penetração na vagina) (Fig. 5) e permanecer durante todo o acto sexual. Após a ejaculação deve ser retirado com cuidado e antes que o pénis perca a erecção. MUITO IMPORTANTE: o preservativo masculino é o único método que alem de crotaceptivo é EFICAZ NA PROTECÇÃO CONTRA DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS (DST).

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Figuras 4 e 5. Preservativo masculino, e esquema explicativo de colocação do mesmo.


  • preservativo feminino: é semelhante ao masculino mas de maiores dimensões e fica seguro à vagina por um anel (Fig.6). Normalmente, é menos utilizado que o preservativo masculino por ser de mais difícil colocação.

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Figura 6. Preservativo feminino.

  • diafragma: é uma meia esfera de borracha fixa a um aro flexível que se coloca bem fundo na vagina (Fig.7), encaixado no colo do útero, evitando a passagem de espermatozóides para as trompas de Falópio. A sua aplicação deverá ser feita antes do acto sexual e reforçada com o uso de um espermicida, e deverá permanecer até pelo menos 8 horas após a relação sexual.

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Figura 7. Diafragma.

  • espermicidas: em espuma, gel ou óvulos aplicam-se normalmente em complemento de um dos anteriores métodos de barreira, antes do acto sexual. Por si só, não são muito seguros mas em conjunto aumentam a eficácia dos métodos escolhidos.


Métodos que impedem a nidação

Ao contrario dos outros métodos já descritos, o dispositivo intra-uterino (DIU) requer a intervencnao de um médico na sua colocação e remoção.

  • dispositivo intra-uterino (DIU): pode ser de plástico libertando progesterona (substituição anual) que torna o muco cervical mais espesso bloqueando a passagem de espermatozóides e impedindo o espessamento do endométrio, ou de cobre interferindo na fecundação e impedindo a nidação (implantação do embrião no útero) (Figs. 8 e 9). O DIU provoca um reacção inflamatória no útero que atrai glóbulos brancos que libertam toxinas para os espermatozóides, eliminando-os.

DIU1.jpg DIU.jpg

Figuras 8 e 9. DIU e DIU implantado.


Métodos de esterilização

Estes métodos embora contraceptivos distinguem-se dos anteriores dado serem praticamente irreversíveis. Qualquer um deles exige uma intervenção cirúrgica e devem apenas ser feitos em casos especiais e após ponderação.

  • vasectomia: no homem, é feita uma incisão em cada canal deferente de modo a não haver passagem de esperma para a uretra (Fig.10).

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Figura 10. Vasectomia

  • laqueação de trompas: na mulher, fazem-se incisões nas trompas de Falópio para que os oócitos II libertados do ovário não se encontrem com os espermatozóides (Fig.11).

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Figura 11. Laqueação de trompas de Falópio


Métodos de emergência

  • pílula do dia seguinte: implica a ingestão via oral de elevadas doses de estrogénio e progesterona impedindo que caso tenha ocorrido a fecundação, o embrião se implante no endométrio uterino.
  • interrupção voluntária da gravidez (IVG): commumente conhecido por aborto, requer intervenção médica para interromper a gravidez.

IMPORTANTE: embora a Lei nº 16/2007 de 17 Abril tenha introduzido a “exclusão de ilicitude nos casos de interrupção voluntária da gravidez (IVG)” até às 10 semanas e a pedido da mulher, não se podem considerar o aborto e a pílula do dia seguinte métodos contraceptivos. Qualquer uma das opções deve ser encarada de forma séria, pensada/ponderada e discutida com o parceiro.


Palavras chave:prevenção, relações sexuais, pílula, preservativo



Criada em 09 de Julho de 2011
Revista em 13 de Julho de 2011
Aceite pelo editor em 04 de Janeiro de 2012