Condutividade

Da WikiCiências
Share/Save/Bookmark
Ir para: navegação, pesquisa

Referência : Ferreira, M., (2015) Condutividade, Rev. Ciência Elem., V3(1):012
Autor: Miguel F.
Editor: Joaquim Agostinho Moreira
DOI: [http://doi.org/10.24927/rce2015.012]


Um meio condutor da electricidade caracteriza-se por ter portadores de cargas que se podem mover sob a acção de um campo eléctrico aplicado. O tipo de portadores de carga depende da natureza do meio condutor. Por exemplo, nos metais, são os electrões de condução os responsáveis pelo transporte de carga eléctrica; já nas soluções electrolíticas, são os iões,resultantes da dissociação iónica do electrólito, que transportam a carga, enquanto que nos plasmas, são os electrões e iões os responsáveis pelo transporte.


Em todos os condutores, as cargas eléctricas encontram-se em movimento. Contudo, uma vez que este movimento é desordenado, não há transporte efectivo de carga eléctrica. Para haver corrente, é necessário aplicar um campo eléctrico para orientar o movimento das cargas. Assim sendo, existe uma relação entre a densidade de corrente, \overrightarrow{J}, e o campo eléctrico, \overrightarrow{E}. Na maioria dos condutores metálicos, esta relação é de proporcionalidade directa:


\overrightarrow{J} = \sigma \overrightarrow{E}


sendo \sigma a conductividade eléctrica do metal.


Para descrever os fenómenos físicos que determinam a condução eléctrica, usa-se um modelo clássico, cujos pressupostos são:


1. a rede metálica é constituida por iões que ocupam posições fixas no espaço, e um gás de electrões de condução que se move entre os iões. Os iões são considerados como objectos impenetráveis, de massa muito superior à dos electrões.

2. os electrões de condução colidem apenas com os iões que constituem a rede metálica; entre colisões, os electrões de condução não interactuam entre si nem com os iões da rede metálica.

3. as colisões dos electrões de condução e os iões da rede consideram-se instantâneas, mudando abruptamente a velocidade dos electrões. A direcção da velocidade dos electrões após uma colisão é completamente aleatória, não tendo relação com a velocidade antes da colisão.

4. Em média, o intervalo de tempo entre duas colisões sucessivas é constante - tempo de percurso médio \tau - e a probabilidade por unidade de tempo de ocorrer uma colisão é o inverso de \tau .


Modelo simplificado de um condutor metálico. As partículas maiores representam os iões da rede metálica e a cheio pode ver-se uma possível trajectória descrita por um electrão de condução. Em pormenor estão representadas a tracejado as possíveis trajectórias que o electrão pode tomar após uma colisão com um ião da rede metálica.


Suponhamos que o metal é formado por um único elemento, de massa atómica  A . Cada átomo do elemento contribui com  z electrões para a condução. Se a densidade do metal for \rho , o número de electrões de condução por unidade de volume, também designado por densidade de electrões de condução, é dado por:


 n = 6.022 \times 10^{23} \frac{z \rho}{A} .


Admitamos que os electrões de condução têm velocidade média  <\overrightarrow{v}>. A quantidade de carga eléctrica que atravessa a secção recta do condutor por unidade de tempo e de área é a densidade de corrente eléctrica, que é escrita da seguinte forma:


\overrightarrow{J} = - n e <\overrightarrow{v}> ,


sendo  e a carga elementar.


A velocidade máxima que o electrão atinge em média entre duas colisões sucessivas pode calcular-se a partir da dinâmica clássica, em que se admite que o electrão está sujeito apenas à força eléctrica. Se \overrightarrow{v}_0 é a velocidade do electrão imediatamente após uma colisão, a velocidade que ele adquire num instante   t , entre as duas colisões sucessivas é:


\overrightarrow{v} = \overrightarrow{v}_0 - \frac{e \overrightarrow{E} t}{m}.


Uma vez que a primeira parcela do segundo membro da equação anterior é perfeitamente aleatória, o seu valor médio é zero. Deste modo, a velocidade média com que os electrões se deslocam é:


 <\overrightarrow{v}> = - \frac{e \overrightarrow{E} \tau}{m},


em que   m é a massa do electrão. Considerando esta expressão para a velocidade média dos electrões, a relação entre da densidade de corrente e o campo eléctrico, admitindo linearidade, é:


\overrightarrow{J} = \frac{ n e^2 \tau}{m} \overrightarrow{E}


donde se conclui que a condutividade eléctrica do metal é:


\sigma = \frac{ n e^2 \tau}{m}.


Com base na última equação, podemos interpretar o facto da condutividade eléctrica de um metal diminuir com o aumento da sua temperatura. De facto, o aumento de temperatura é consequência do aumento da energia interna do metal, que se traduz por uma agitação térmica com maior amplitude. Assim sendo, a probabilidade por unidade de tempo do electrão colidir com um ião da rede aumenta, pelo que  \tau diminui.

Apesar da sua simplicidade, este modelo não explica certos aspectos do transporte de carga em metais, por exemplo a magnetoresistência e o efeito termoeléctrico.




Criada em 07 de Março de 2011
Revista em 25 de Março de 2011
Aceite pelo editor em 25 de Março de 2011